Texto: Pra. Mariana Madaleno

Ela está em todos os noticiários. Em todos os jornais. No rosto dos desempregados. Nas faixas dos grevistas. Nas vitrines promocionais. Já era esperada, mas, mesmo assim, causa espanto. A crise econômica, política e institucional pela qual nosso país passa traz seus efeitos avassaladores em mais de uma esfera de nosso cotidiano. Acrescenta-se a ela os efeitos uma crise mais ampla e mais antiga, que abala as estruturas globais do meio ambiente, da segurança, de valores e de visões de mundo.

Mais do que afetar nossas compras, esta crise (ou crises) parece, por vezes, querer afetar até mesmo nosso ânimo, nosso modo de enfrentar o dia. Um sentimento de justa insatisfação se alastra pela nação e pela porta de nossas casas, mas deixa um rastro que adentra nossos sentimentos e mentalidade.

São tempos interessantes. Quando há a crise, desvendam-se as incongruências que antes eram aceitas como se assim não fossem. Isso é verdade na política nacional, mas é verdade também em nossos comportamentos diários. E há um lado bom em tudo isso. As conversas consumistas perdem espaço. Refletimos mais sobre o futuro. O que mais importante passa a ser, quem diria, importante.

É preciso, é claro, cautela. Cuidado para que a crise que nos rodeia não nos confunda na neblina do que é desconhecido. Não nos deixe “rebeldes” das redes sociais e inoperantes na vida real. Não nos deixe emaranhados em nossas próprias confusões. Não nos deixe de lembrar que há um caminho e uma esperança.

Por vezes, dá mesmo vontade de nos esquecermos da crise. É bom poder respirar fora dela de vez em quando, nem que seja para nos lembrar de que existem, sempre, outros ares. Não digo isso como um desejo por alienação, pois creio que isso nem seria possível realmente. Mas é que podemos ser alienados da crise, da desesperança, do “está mal e vai piorar”. Facilmente nos viciamos no inferior.

Então, nesta semana, esqueça um pouco da crise e enfrente-a melhor. Jogue bola com seu filho. Beije a sua esposa. Faça uma visita. Doe uma roupa usada. Faça sopa ao invés da picanha e sente-se ao redor da mesa com os seus. Troque a marca do sabão em pó por outra mais em conta. Leia aquele livro que comprou e nunca abriu. Refaça seu currículo. Experimente ficar mais alguns minutos de joelhos, em oração.

Estes dias passarão. Enquanto isso, podemos permanecer firmes, pois na verdade, não somos vítimas indefesas dentro de um trem desgovernado. Somos cidadãos de um Reino chamados a abençoar outros por onde quer que estivermos. Há os vales da sombra, mas também os pastos verdejantes.

Nas palavras do sábio Salomão, “Se você vacila no dia da dificuldade, como será limitada a sua força!” (Provérbios 24.10). Não vamos dar passos em falso. Este é o tempo para descobrirmos quem realmente somos.

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