Vivemos numa sociedade marcada pelo paradoxo de ser hedonista sem a capacidade de sentir prazer. Isso é uma antítese, pois ser hedonista é justamente estar em constante busca pelo prazer. A cultura de consumo na qual estamos inseridos tornou o prazer e a satisfação em abstrações inatingíveis. A realização nunca acontece! Exige-se um pouco mais para chegar ao prazer e ele é adiado sempre. É um estado utópico, sem saciedade. A compulsão pelo prazer consome tudo à volta e a satisfação nunca acontece, colocando em risco a vida humana.

Há vários objetos na busca pelo prazer. As pessoas depositam suas expectativas no carro do ano, na marca da bolsa, num corpo sarado, nos relacionamentos, no dinheiro, na fama etc. As pessoas impõem a si mesmas a falta de plenitude no presente ou em como estão no momento, adiando a satisfação para um futuro inalcançável.

Essa compulsão acelerada torna a vida frívola. Perde-se, então, a noção do valor. Aquilo que era o “sonho de consumo” torna-se algo banalizado e o “modelo do ano” já não serve. Coisas que você sequer sabia que existiam, tornam-se objetos de desejo insaciável até que sejam adquiridas e descartadas. As relações humanas tornam-se provisórias. A fila anda e, assim, a vida torna-se vazia. A frustração assume o protagonismo da história e os extremos desequilibrados tornam-se a rotina, onde a gargalhada transforma-se rapidamente num choro compulsivo. As pessoas estão mais histéricas do que felizes e a vida dá-se pelas reações, se alguém curtiu ou não curtiu. Isso é, possivelmente, um sintoma da patologia cultural que nossa sociedade sofre, conforme indica o filósofo Fernando Muniz em seu livro “Prazeres Ilimitados”.

Pessoalmente, acredito que os “donos dessa cultura” são os jovens. Só eles podem iniciar uma transformação revolucionária. Apesar de não concordar com seus métodos, gosto da expressão de Che Guevara quando diz que “ser jovem e não ser revolucionário é uma contradição genética”. Os jovens são fortes: “Jovens, eu lhes escrevi, porque vocês são fortes, e em vocês a Palavra de Deus permanece e vocês venceram o Maligno” (1 João 2.14b). Neste texto bíblico, o apóstolo declara a força do jovem e o segredo para ter uma vida plenamente satisfeita, que é permanecer em Deus e naquilo que Ele diz e ensina.

Os jovens podem promover cura à nossa cultura, mas a juventude não é uma coisa de idade ou de aparência. Diferente do que muitos pensam, a alma é a sede da juventude. Ser jovem é uma questão de atitude! Quando temos a atitude de enfrentar os desafios e mudar realidades equivocadas, somos jovens. Podemos, então, transformar a cultura terrena do prazer banal inacessível, em uma cultura celestial de satisfação e plenitude. Neste processo, a opção pela simplicidade, autenticidade e graça, se torna óbvia. A dependência de Deus e a gratidão pelo pão de cada dia revelam nossa identidade e corrigem nosso curso histérico em tentar ser quem não somos ou ter o que não temos.

Pr. Murilo Dantas

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